25 de junho de 2009

A terceira cena da noite


Por Sandro Henrique

O absurdo presente na “Malevolência”, permanece com “5 cabeças a espera de um trem”, porém não se tratam de cabeças cortadas servidas à mesa, como seria ao gosto dos malévolos da cena anterior. Parece se realizar cenicamente o trocadilho daquilo que é sem pé nem cabeça, da mesma forma que é o texto e como são as músicas cantadas pelas cabeças. Não é apontada nenhuma pretensão do foco sobre as cabeças como metonímia ou demanda de um “close cinematográfico” feito teatralmente. As cabeças no meio do nada não esperam Godot, mas “Nick Van Drick”, cujo nome, porém, remete aos personagens de Samuel Beckett, Vladimir e Lucky. A espera também é infundada, a hora no relógio não muda, a “polinésia” dada como possível destino é mais um nome qualquer de um lugar, que um espaço geográfico específico, e corre por hora assuntos como espirros. É importante destacar a movimentação das cabeças, e a dimensão que um piscar de olhos pode ganhar no palco, lugar a que o senso comum associa apenas aos movimentos amplos. É possível pensar que as cabeças apontam para o que não há em cena: a racionalidade, a lógica, a inteligência capaz de mover as pessoas, de fazê-las deixar o pasmo da espera vã. Nesse sentido, ironicamente, o que se mostra é o que está ausente, como forma de revelar aquilo que não se vê.

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