25 de junho de 2009

Crítica fechada: exercício do olhar


Por Gabo Braga

Foi com um considerável atraso e com a casa lotada que começou na última quinta-feira, no Galpão Cine Horto, o 10º Festival Cenas Curtas. Como já era esperado, muita festa, muita comemoração e, assim, um clima de retrospectiva de sucesso invadiu o primeiro dia do evento.

Para começar bem, a cena convidada Boxe com Palhaçada, trouxe o desconhecido teatro amazonense para Belo Horizonte. Com um humor inocente e até um pouco previsível, foram necessários poucos minutos para conquistar de vez a platéia. Como se não bastasse, a cena extrapola o limite do palco e convida alguns expectadores para entrar em cena. Com um texto leve e agradável, transmite bem o que tem a dizer. Fazendo bem o uso de personagens articulados e a exploração do exagero, a cena volta a se apresentar no sábado e certamente conquistará novamente o público. Faltou apenas ousar mais. Nota 7,5.

Iniciando a etapa competitiva do festival, foi a vez da cena Malevolência, direção de Jonnatha Horta Fortes, entrar no palco. A peça é densa, o som é pesado, a performance é elaborada. Resultado disso? Uma cena fantástica. Rica em detalhes, os personagens fazem parte de um emaranhado grupo de sanguinários estereotipados e caricaturais que acabam se revelando dentro de si com um humor frio e sagaz. Não desgrudar os olhos da cena passou a ser um ritual de todos. O jantar das pessoas mais maldosas do mundo foi uma grande surpresa. Destaque para a atuação de todos os atores, impecáveis (Cynthia Paulino, Flávia Fernandes, João Marcos Dadico, Paulo Mandatti, Rodrigo Fidelis e Samira Ávila). Um excelente trabalho. Nota 8,5.

A noite seguiu com mais uma cena inovadora: 5 cabeças a espera de um trem. A peça dirigida por Byron O’Neill e Alexandre Cioletti foi elaborada exclusivamente para participar do festival e, de fato, agradou o público. De cara ela já foi bem recebida. A proposta de usar apenas as cabeças dos personagens nos vãos de uma enorme bancada se mostrou uma excelente estratégia de fugir do obvio e revelou o grande talento dos cinco atores (Carol Oliveira, Luisa Rosa, Mariana Câmara, Ronaldo Jannotti e Saulo Salomão). A cena se passa em torno de um mistério: Nick Van Drick voltará ou não com os cigarros que saiu para comprar 15 anos atrás? Com falsos dilemas existenciais, a cena é rica tanto na forma, como no conteúdo. Vale ressaltar os momentos de humor “moleque”, sem nenhuma preocupação e as intervenções musicais da cena. Simples, como toda grande idéia, 5 cabeças a espera de um trem é forte candidata a ser uma das melhores do festival. Nota 9.

Em seguida, subiu ao palco a cena O caminho do cemitério. A cena de Cristina Vilaça e Marcelo Cordeiro foi a que menos se destacou na primeira noite do festival. Pecou por explorar pouco a adaptação do conto de Thomas Mann, escrito em 1901. A história bonita e triste revela um conflito pessoal muito grande de seu personagem e toca em um lado que não havia sido exploda ainda, a comoção. Ponto forte foram os figurinos, a atuação de Cristina Vilaça, que conseguiu ser na maior parte da cena narradora e, ainda sim, se transformar, sem perder nenhuma magia, no personagem principal. Nota 7.

Pra fechar a noite de gala com chave ouro, a cena Para aqueles que lavaram as mãos entrou no palco com grande estilo. Foi a cena que mais se permitiu. Experimentou na trilha, no canto ao vivo, nos vídeos e na forte dramaturgia. Simplesmente desafiadora. Sob coordenação de Renato Bolelli e Vivianne Kiritami o cenário foi elemento vivo em cena. Sem se preocupar com o limite palco e platéia a cena agradou e merece um formato maior, que extrapole os quinze minutos do Cenas Curtas. Nota 8,5.

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