28 de março de 2010

Medo da eternidade




Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.

Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas.

Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.

- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.

O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.

Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.

- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.

Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

Clarice Lispector

19 de março de 2010

5 cabeças em Manaus!

Depois de encerrarmos a temporada do VAC que foi um sucesso, casa cheia, crítica positiva, viajamos para Manaus. Apresentamos no Teatro Amazonas para a maior platéia que já tivemos em toda nossa pequena estrada. 700 pessoas lotaram aquele teatro mágico e nossa cena surgiu do chão até alcançar o nível da platéia. Foi tão legal!

Algumas coisas boas de Manaus

* Debate no dia seguinte
* Sandra Coverloni e Heldér
* Rio Negro
* Sessão a la Vogue no camarim
* cortes ousados a la Saulo, Mari e Lú
* Galera de Fortaleza, Manaus, Sampa, Rio, Salvador
* Patrícia, Rafael e Darlei direto de Curitiba (bom revê-los)
* Encontros a meia noite na piscina decadente do nosso hotel (aff)
* o peixe no almoço e no jantar
* cupuaçu e cajá





eu contemplando o Rio Negro (fantástico!)

Mostra de Rascunhos 2010



Acontece neste sábado no Galpão Cine Horto a mostra de rascunhos das cenas concorrentes ao projeto CENA-ESPETÁCULO. Estou participando da programação com a cena "CIDADE CIRCULAR", a segunda da noite. Serão doze cenas no total. As portas se abrem as 19hs e a entrada é franca.

programação completa no site:
http://www.galpacinehorto.com.br/


CIDADE CIRCULAR
DIREÇÃO: Coletiva
DRAMATURGIA: Julieta Dobbin
ELENCO: Julieta Dobbin, Mariana Câmara, Saulo Salomão
ILUMINAÇÃO: Ronaldo Jannotti
TRILHA SONORA: Leonardo Cunha
CENÁRIOS E FIGURINOS: O grupo

SINOPSE: Uma cidade circular, onde sempre se retorna ao lugar de partida, habitada por três personagens. Essa peça é uma alegoria de sentimentos e comportamentos humanos

11 de março de 2010

Cidade circular ou Povoado do redondo

Em uma mesa de bar, estávamos nós 4, eu, Julieta, Léo e Saulo. Lá cada um de nós colocamos os nossos desejos e chegamos juntos a um único. A Cidade Redonda. Logo depois agregamos mais duas pessoas, Ronald e Marcelo e juntos nós seis passamos a comungar da mesma idéia ciclíca. Agenda, reuniões, criações, casa da Mari, casa da Juli, casa do Saulete, mas nunca sem perder o fio da meada.O resultado? saiu na sexta dia 05 de março, agora somos uma das 12 cenas que irão dar a cara à tapa neste processo de observatório de criação.

Dia 20 de março as 19hs no Galpão Cine Horto - entrada franca

Venha circular com a gente!