25 de junho de 2009

A terceira cena da noite


Por Sandro Henrique

O absurdo presente na “Malevolência”, permanece com “5 cabeças a espera de um trem”, porém não se tratam de cabeças cortadas servidas à mesa, como seria ao gosto dos malévolos da cena anterior. Parece se realizar cenicamente o trocadilho daquilo que é sem pé nem cabeça, da mesma forma que é o texto e como são as músicas cantadas pelas cabeças. Não é apontada nenhuma pretensão do foco sobre as cabeças como metonímia ou demanda de um “close cinematográfico” feito teatralmente. As cabeças no meio do nada não esperam Godot, mas “Nick Van Drick”, cujo nome, porém, remete aos personagens de Samuel Beckett, Vladimir e Lucky. A espera também é infundada, a hora no relógio não muda, a “polinésia” dada como possível destino é mais um nome qualquer de um lugar, que um espaço geográfico específico, e corre por hora assuntos como espirros. É importante destacar a movimentação das cabeças, e a dimensão que um piscar de olhos pode ganhar no palco, lugar a que o senso comum associa apenas aos movimentos amplos. É possível pensar que as cabeças apontam para o que não há em cena: a racionalidade, a lógica, a inteligência capaz de mover as pessoas, de fazê-las deixar o pasmo da espera vã. Nesse sentido, ironicamente, o que se mostra é o que está ausente, como forma de revelar aquilo que não se vê.

Não fique à espera!


Por Andreza Martins Barcelos

Com desejo de participar do Festival Cenas Curtas, o diretor Byron O’Neill e sua equipe correram atrás do trem, ou melhor, estão a espera de um trem, quer dizer, eles se juntaram para produzir a cena “5 Cabeças a Espera de um Trem”. Confusões à parte, diferentemente do título da cena, seus produtores não ficaram a espera e, sim, correram em frente com o processo de elaboração da cena que segundo Byron “foi muito trabalhoso, porém, muito gostoso”.
Nem trabalho nem estudo foram motivos para atrapalhar o processo de produção, que aconteceu muitas vezes em horários “alternativos”, nunca antes das 22hs. A amizade entre os integrantes do grupo foi muito importante durante esse período, o texto e as músicas foram feitos em meio à descontração de exercícios de improvisações e jogos cênicos. “Quando trabalhamos entre amigos tudo fica mais fácil”, diz Byron.

As influências adotadas são muitas: filmes, livros, peças teatrais e até mesmo os próprios integrantes do grupo. A maioria da equipe é estreante no festival – exceto Marcelo Aléssio, que tem a função de apoiador de cena, e no ano de 2008 participou como ator em “Como uma Flor e um Cachorro”.
Byron conta que o título foi dado pelo fato de que na cena é retratado que 5 cabeças estão a espera de um trem há 27 anos, e deixa o recado: “o importante não é saber de onde vem o trem e, sim, para onde ele vai”.
Então... Embarque nessa viagem! Mas com cautela, não vão perder a cabeça!

Canto e silêncio


Riso e absurdo marcam primeira noite

Por Maísa Gontijo


A grande fila formada em frente ao Galpão Cine Horto não deixa dúvidas: algo de grande está para acontecer no teatro. Trata-se da abertura das comemorações dos dez anos do festival Cenas Curtas. Em clima de festa, com direito a balas delícia e chapeuzinhos de aniversário, a fila aguarda ansiosamente o início das apresentações. Os personagens que ilustram o cartaz do evento tomam vida nessa edição, e chamam a atenção do público para a importância da data: “O que hoje em dia duram dez anos, gente?”. Na contramão da efemeridade das ações contemporâneas, o Cenas Curtas mostra que consegue não só resistir ao tempo, como também se desenvolver ao longo dos anos.


Em seguida, 5 cabeças começam a cantar em coro: “Será o Nick Van Drick?”. 5 cabeças a espera de um trem é a próxima cena a se apresentar. Elas estão lá, há 27 anos, esperando um trem para a Polinésia passar. “Será que ele passa aqui? Será que ele chega lá? Devo comprar as passagens agora? E se o trem passar enquanto eu estiver no guichê?”. Dilemas... dilemas que passam por essas cabeças durante toda a cena que, bem ao estilo do teatro do absurdo, foi desenvolvida especialmente para o Cenas Curtas. Talvez seja por isso que as horas do relógio da estação insistam em não passar: 15 minutos é muito pouco tempo para o humor criativo e inteligente da cena, que começou com o canto, mas terminou com o silêncio.

Crítica fechada: exercício do olhar


Por Gabo Braga

Foi com um considerável atraso e com a casa lotada que começou na última quinta-feira, no Galpão Cine Horto, o 10º Festival Cenas Curtas. Como já era esperado, muita festa, muita comemoração e, assim, um clima de retrospectiva de sucesso invadiu o primeiro dia do evento.

Para começar bem, a cena convidada Boxe com Palhaçada, trouxe o desconhecido teatro amazonense para Belo Horizonte. Com um humor inocente e até um pouco previsível, foram necessários poucos minutos para conquistar de vez a platéia. Como se não bastasse, a cena extrapola o limite do palco e convida alguns expectadores para entrar em cena. Com um texto leve e agradável, transmite bem o que tem a dizer. Fazendo bem o uso de personagens articulados e a exploração do exagero, a cena volta a se apresentar no sábado e certamente conquistará novamente o público. Faltou apenas ousar mais. Nota 7,5.

Iniciando a etapa competitiva do festival, foi a vez da cena Malevolência, direção de Jonnatha Horta Fortes, entrar no palco. A peça é densa, o som é pesado, a performance é elaborada. Resultado disso? Uma cena fantástica. Rica em detalhes, os personagens fazem parte de um emaranhado grupo de sanguinários estereotipados e caricaturais que acabam se revelando dentro de si com um humor frio e sagaz. Não desgrudar os olhos da cena passou a ser um ritual de todos. O jantar das pessoas mais maldosas do mundo foi uma grande surpresa. Destaque para a atuação de todos os atores, impecáveis (Cynthia Paulino, Flávia Fernandes, João Marcos Dadico, Paulo Mandatti, Rodrigo Fidelis e Samira Ávila). Um excelente trabalho. Nota 8,5.

A noite seguiu com mais uma cena inovadora: 5 cabeças a espera de um trem. A peça dirigida por Byron O’Neill e Alexandre Cioletti foi elaborada exclusivamente para participar do festival e, de fato, agradou o público. De cara ela já foi bem recebida. A proposta de usar apenas as cabeças dos personagens nos vãos de uma enorme bancada se mostrou uma excelente estratégia de fugir do obvio e revelou o grande talento dos cinco atores (Carol Oliveira, Luisa Rosa, Mariana Câmara, Ronaldo Jannotti e Saulo Salomão). A cena se passa em torno de um mistério: Nick Van Drick voltará ou não com os cigarros que saiu para comprar 15 anos atrás? Com falsos dilemas existenciais, a cena é rica tanto na forma, como no conteúdo. Vale ressaltar os momentos de humor “moleque”, sem nenhuma preocupação e as intervenções musicais da cena. Simples, como toda grande idéia, 5 cabeças a espera de um trem é forte candidata a ser uma das melhores do festival. Nota 9.

Em seguida, subiu ao palco a cena O caminho do cemitério. A cena de Cristina Vilaça e Marcelo Cordeiro foi a que menos se destacou na primeira noite do festival. Pecou por explorar pouco a adaptação do conto de Thomas Mann, escrito em 1901. A história bonita e triste revela um conflito pessoal muito grande de seu personagem e toca em um lado que não havia sido exploda ainda, a comoção. Ponto forte foram os figurinos, a atuação de Cristina Vilaça, que conseguiu ser na maior parte da cena narradora e, ainda sim, se transformar, sem perder nenhuma magia, no personagem principal. Nota 7.

Pra fechar a noite de gala com chave ouro, a cena Para aqueles que lavaram as mãos entrou no palco com grande estilo. Foi a cena que mais se permitiu. Experimentou na trilha, no canto ao vivo, nos vídeos e na forte dramaturgia. Simplesmente desafiadora. Sob coordenação de Renato Bolelli e Vivianne Kiritami o cenário foi elemento vivo em cena. Sem se preocupar com o limite palco e platéia a cena agradou e merece um formato maior, que extrapole os quinze minutos do Cenas Curtas. Nota 8,5.

22 de junho de 2009

5 cabeças


êêêêêê...
ganhamos! com 52,0% dos votos como a melhor de quinta! Obrigada à todos que votaram em nós, obrigada à todos da equipe que confiaram em nós, obrigada aos meus colegas de cena, Lú, Ronald, Carol e Saulito...

O dia D

O dia começou cedo para nós. As 9h já estavamos na porta do Cine Horto com os carros carregados de cenário. Hora de montar nosso filhote. As 10h30 começamos nosso ensaio técnico, Byron na cabine dando as cordenadas, nós no cenário, passando a cena, uma, duas, três vezes. Hora do almoço e Byron diz " acho melhor todos irem para casa descansar e dormir pois a noite será longa..." e fomos. Concentração na casa do nosso diretor as 17h. Daniel nosso mega maquiador já chegou e já foi colocando a mão na massa ou melhor da cabeça da Lú. E a tensão começa, e passamos o texto de diversas formas, cantamos, aquecemos a voz, e aquecemos de novo. As 20h30 todos prontos. Dividimos nosso camarim com o Claudinho Dias da cena "Para aqueles que lavaram as mãos" e sua equipe e com o Marcelo Cordeiro da cena "O caminho do cemitério" e sua equipe. Cada uma a sua maneira foi buscando concentração, pois o dia prometia. Daniel fez os últimos retoques e lá fomos nós para a escada esperar chegar a nossa vez. Byron dando os últimos recados, eu super tensa. E lá se foi a largada. Começamos, platéia lotada, e uma cena gostosa de ter sido feita. Nos divertimos muito em cena, pois isso sim era o principal, se divertir!

Fomos correndo para a escada e demos pulos de alívio, dever cumprido e nossa melhor passagem da cena...não importa o resultado, mas sim o nosso esforço para que aquilo ficasse como queríamos. Agradecimento e cumprimentos dos amigos e familiares. Hora de tirar a maquiagem, desmontar o filhote, trocar a roupa e ir para o bar...eita bar...Paolo e Isaque arrasando no som...mas a noite não acaba lá e sim no Bolão com direito a macarrão, muita cerveja e muita euforia!

15 de junho de 2009

Mais uma...



Fotos por Ronaldo Jannotti

O Feriado


Ficamos o feriado todo de quinta a domingo ensaiando nossa cena curta. Ontem, ao fim da maratona, a Carol diz o seguinte: "Descobri que minha religião é o teatro, pois nenhum reliogioso ferveroso passa tantas horas rezando com nós passamos ensaiando", e hei de concordar com ela. Nossa religião é o TEATRO mesmo. Somos capazes de abrir mão de tudo, do feriadão, dos encontros familiares, das baladas, dos estudos, para se dedicar a essa arte que tanto nos instiga a querer mais e mais...cansaço, música, aquecimento, comida, delivery, energia, uma esticadinha para o hot dog à brasileira, assuntos banais e a presença constante da nossa mascotinho, Cecília Rosa Cioletti, tão paciente com nossas cantorias.

10 de junho de 2009

Air France


Ao entrar no trem "balinha", recebi um telefonema me informando do avião que tinha até então desaparecido do ar. Minha primeira pergunta foi "Como assim, um avião desaparece?", pois este mistério de como aconteceu de fato o desastre do Air France no domingo dia 31/05 ainda não foi desvendado. Soube dois dias depois que o irmão de um conhecido estava nele. Impressionante como não temos certeza de nada e de como achamos que temos. Ao entrar em um avião, ou pegar uma estrada não sabemos o que nos aguarda na próxima curva. Já pensei em tudo, explosão, atentado terrorista, afogamento, sei lá...fico pensando nas pessoas, o que passaram na cabeça delas, se elas perceberam algo de diferente ou se simplesmente não viram nada (espero até que seja isso). O pior ainda é ligar a TV todos os dias e cada dia uma informação nova, um novo corpo e nada concreto, certo.

O Metrô


Sento sempre de preferência nos bancos que seguem a mesma direção do trem. Ao sentar, fico à observar seus transeuntes. A cada estação um entra e sai de gente de todos os jeitos e estilos. Talvez seja o transporte público que mais receba pessoas de todas as camadas. São estudantes, executivos, trabalhadores braçais, donas de casas e um milhão de outras ocupações. Fico a olhar o rosto de cada uma a cada dia que entro neste trem "balinha". Há pessoas tristes, outras agitadas, outras apressadas, outras simples. Fico ali, olhando e pensando como será a vida de cada um. Fico ali, observando em qual estação descem. Tem também aqueles que encontro sempre e sempre no mesmo vagão. Há aqueles que como eu, estão lendo um livro ou uma revista ou um jornal, estão lendo e se informando, há aqueles que como eu estão à ouvir suas músicas prediletas ou até mesmo escutando um texto para ser decorado, há aqueles que como eu não estão lendo e nem ouvindo nada, mas estão olhando, para o nada ou para o tudo. Fico ali para também ser observada e permeear a imaginação de cada um deles, pois eles acabam alimentando minha imaginação e criatividade de atriz.